Depende de que lado bebemos um copo de vinho!
“Em Portugal, as pessoas são imbecis ou por vocação, ou por coacção, ou por devoção” – Miguel Torga.
Gosto de beber um copo! Confesso, e assumo, sou aquela pessoa com espírito de rico em corpo de pobre! Gosto de escolher e aconselhar bem, bons lugares com uma boa relação preço/serviço.
Convite de amigos para um concerto de jazz, pelo caminho alguém sugere um copo antes:
– E porque não numa típica casa regional, que nos saia em conta (isto, claro, em Lisboa)?
Fomos a uma casa com sabores alentejanos, “Lisboa na moda”, o interior estava a abarrotar, retomámos a calçada, muito turística, e qual o espanto!? A casa tem uma parte não só virada para a calçada mas também com uma pequena esplanada, vimos uma mesa vazar… zás!, a nossa oportunidade, todos muito felizes com a nossa reacção rápida.
Veio a carta de vinhos, e claro que para nós não havia duvidas, era o da casa e pelo sim, pelo não, certificámo-nos de que era mesmo o da casa.
– Quatro copos de vinho, por favor!
Era a gula por um copo para o caminho antes do jantar, e depois o jazz.
– A conta, por favor!
– Oito euros por copo.
Estes alentejanos com a mania das anedotas, pensei eu… Normalmente o que oiço são anedotas sobre os alentejanos e não o contrário, continuava eu na minha reflexão enquanto esperávamos pelo senhor que nos serviu para podermos contestar.
Estávamos a falar já com o senhor responsável pelas cobranças, uma espécie de “gerente”, pois quem nos serviu continuava a abastecer o resto da mesas.
– Sim, esse é o preço.
– Impossível, o copo de vinho da casa são 2.50 Euros, é o que esta na vossa carta.
– Não, servi o melhor, nenhum dos senhores se opôs ao beber, vão ter de pagar.
Que era um dos mais caros, e sem uma consulta previa, sem direito a mostrarem a garrafa para o nosso consentimento.
Estalou o verniz.
– Nós estamos em Portugal e não nos tome por turistas, chamamos a policia se for preciso, ou chame o senhor, não vamos pagar esse preço… – argumentávamos.
Naquele momento pensei: só se for por minha causa, sou o único preto, e “África está na moda”; pior, era o único “convidado penetra”, pois gozo do estatuto de “desempregado freelancer”.
– Já sei, vocês, para além de não quererem pagar, são daqueles que vão exigir a factura com o número de contribuinte.
É preciso ter cuidado quando andamos pela calçada portuguesa, pode ser algo escorregadio. Se não temos cuidado, acabamos descalços.
Pois eu vou-me ficar pelas tascas.
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